As novas tendências do mercado laboral: a semana de 4 dias de trabalho e o seu impacto no mundo empresarial
A pandemia inaugurou novos modelos de trabalho no mundo corporativo, marcados pelo alargamento do trabalho remoto que trouxe consigo mais tempo, mais liberdade e flexibilidade. O teletrabalho diluiu os limites entre a esfera profissional e pessoal, mas também abriu todo um leque de novas possibilidades profissionais. Num momento em que a valorização da qualidade de vida é cada vez maior, pondera-se agora reduzir a semana de trabalho para 4 dias em detrimento dos tradicionais 5 dias de trabalho. Um novo paradigma que se aproxima e que pode ditar o futuro das organizações.
Neste artigo, vamos abordar algumas das vantagens e desvantagens da semana de 4 dias de trabalho, e o seu impacto na produtividade das empresas e no mundo empresarial como o conhecemos hoje.
A medida está longe de ser consensual e, apesar de ainda não ter sido implementada em Portugal, está em cima da mesa. O Governo aprovou um programa dirigido a 100 empresas que queiram fazer parte de um projeto-piloto. De acordo com a ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, o estudo a ser desenvolvido com os parceiros sociais visa definir parâmetros quanto à dimensão e representatividade procurada nas empresas que irão integrar o programa.
Mais liberdade e flexibilidade
A questão da semana de 4 dias de trabalho surge no pós-pandemia numa altura em que os modelos de trabalho sofreram uma mudança estrutural no seio das empresas. A necessidade de aumentar a produtividade dos colaboradores e tornar a gestão de tarefas mais eficaz e eficiente, a procura por uma maior qualidade de vida e as questões relacionadas com a saúde mental, são alguns dos fatores decisivos para a implementação da semana de 4 dias de trabalho.
Atualmente, o Código de Trabalho português não define um mínimo de horas semanais. É apenas definida uma carga máxima semanal de 40 horas semanais para todos os setores. A Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) prevê ainda diferentes regimes no que toca ao horário de trabalho, sendo que numa semana de quatro dias de trabalho, poderá ser concretizado o regime de adaptabilidade ou o de horário flexível.
Vantagens e desvantagens
A semana de 4 dias de trabalho traz vantagens e desvantagens tanto para as empresas como para os trabalhadores:
Vantagens
- Diminuição do impacte ambiental: o teletrabalho ou um regime laboral mais flexível com menos deslocações para o local de trabalho pode reduzir a pegada ecológica dos colaboradores através da redução do nível de emissões CO2;
- Redução de custos: tanto para o colaborador como para a empresa, que irá poupar nos seus recursos, nomeadamente equipamentos, água e electricidade sempre que os colaboradores estiverem ausentes da empresa.
- Mais equilíbrio entre a vida pessoal e profissional: numa altura em que a qualidade de vida passou a ser uma prioridade para muitos trabalhadores, a flexibilidade no local de trabalho pode trazer um maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional porque permite mais tempo para aproveitar os tempos de lazer e a vida em família;
- Aumento da produtividade: colaboradores mais felizes, com mais tempo livre para estar com a família e amigos, e para realizarem actividades que os estimulem, são mais produtivos;
- Gestão eficiente do tempo: com apenas quatro dias de trabalho por semana, os colaboradores necessitam de ter maior foco e atenção na concretização das suas tarefas. Há menos espaço para distrações e uma maior necessidade de gestão de tempo;
- Saúde mental: menos horas de trabalho por semana e horários de trabalho flexíveis permitem aliviar os níveis de stress e reduzir o risco de burnout causadas pelo número de horas de trabalho excessivas.
Desvantagens
- Regime não aplicável a todas as empresas: há vários setores que trabalham 24 sob 24 horas, todos os dias, pelo que este regime não é aplicável, nomeadamente fábricas e outras indústrias;
- Regime de difícil adaptação: este tipo de modelo necessita de adaptação e mudança não só pelas empresas, como também pelos colaboradores. Profissionais que não estão habituados a trabalhar por objetivos ou com deadlines definidos, podem ter dificuldade em adaptar-se aos desafios impostos por uma semana de quatro dias;
- Desenvolvimento de novas competências profissionais: os colaboradores precisam de desenvolver novas competências, como a gestão eficiente do tempo, o foco e a atenção, para que consigam cumprir as expectativas da empresa e manter os níveis de produtividade. Também deverá haver um maior investimento das empresas na formação adequada dos seus profissionais, operar mudanças na forma como recrutam os seus colaboradores e no desenvolvimento de novas ferramentas como coaching, captação de talento, entre outras;
- Risco da diminuição da satisfação do cliente: com uma semana de quatro dias de trabalho, há menos um dia disponível para atendimento ao cliente. Assim, este regime cria mais um desafio no que diz respeito à satisfação do cliente, obriga ao desenvolvimento de alternativas no atendimento e ao uso das novas tecnologias da informação para superar esses desafios;
- Nova legislação laboral: um novo modelo de trabalho implica a atualização das leis do trabalho e uma legislação clara que permita dar mais tempo aos colaboradores, e aumentar os seus níveis de produtividade no desempenho das suas tarefas de uma forma mais eficiente;
- Perda da cultura profissional: muitos gestores de recursos humanos defendem que o afastamento do colaborador em relação à entidade patronal pode gerar uma perda na cultura da empresa e prejudicar as relações interpessoais entre os seus colaboradores. O teletrabalho ou um regime de trabalho mais flexível pode tornar o ambiente de trabalho mais distante e impessoal.
Exemplos de empresas que já aplicaram a medida
Algumas empresas estrangeiras já testaram este modelo e com resultados positivos, como é o caso da Islândia. Já na Suécia, o estudo levado a cabo dividiu opiniões. Outros países, como a Nova Zelândia, Bélgica e Espanha, encontram-se a testar formas de aplicar a semana de quatro dias.
Islândia
Têm vindo a testar a semana de quatro dias de trabalho, com a mesma remuneração mensal. De acordo com os estudos feitos pelo país, a produtividade manteve-se e nalguns casos aumentou. Outros indicadores que avaliaram o impacto no bem-estar dos colaboradores registaram uma aumento tendo como principal fator a redução do risco de burnout;
Nova Zelândia
Esta experiência está a ser impulsionada pela empresa Unilever, que reduziu as horas semanais em 20% mantendo a remuneração mensal;
Bélgica
Deu a opção à população de escolher se quer trabalhar quatro ou cinco dias por semana, mas com a mesma carga horária total. Este modelo permite aos colaboradores folgarem mais um dia por semana. No entanto, não é o modelo ideal da semana com quatro dias de trabalho;
Espanha
Foi criado um programa de financiamento para todas as empresas que pretendem implementar este modelo, com redução das horas semanais. Este projeto pretende avaliar o impacto e necessidades junto das empresas, recursos humanos, serviços e planeamento de tarefas;
Suécia
A experiência levada a cabo em 2015 gerou uma controvérsia de opiniões. Se por um lado alguns políticos consideraram esta implementação dispendiosa, por outro as microempresas gostaram e algumas delas acabaram por adotar este regime de trabalho.
Andreia Arenga