Gestão Familiar: as dificuldades de gerir um negócio de família
As empresas deparam-se geralmente com um conjunto de obstáculos que ameaçam a sua sustentabilidade futura, como por exemplo, a nível de gestão. Nas entidades empresariais de cariz familiar esta situação verifica-se, na medida em que, a administração por parte de elementos que partilham entre si um vínculo familiar pode ser prejudicial para a sustentabilidade do negócio. A existência de conflitos prévios entre os gestores de uma organização empresarial familiar contribui para que a gestão da empresa fique lesada devido à quebra de relacionamento entre estes. Torna-se assim fundamental, estabelecer regras e padrões de relacionamento que permitam uma relação cordial e profissional entre os membros da família gestores da empresa.
O que é uma Empresa Familiar?
O conceito de empresa familiar define-se como o ato de um ou mais membros de uma mesma família controlarem uma empresa, através da posse de uma parcela de capital. As empresas familiares são comummente formadas por membros da mesma família, tendo presente no âmbito da sua gestão duas ou mais gerações. Esta tipologia de organização empresarial apresenta não só grande relevo no contexto económico, como também a nível da sociedade e da política mundial.
A tipologia de empresa familiar pode variar desde micro e pequenas empresas, até multinacionais, sendo a sua estrutura formada essencialmente por três fatores fundamentais: a família, a empresa e o património.
Caraterísticas distintivas das Empresas Familiares
As entidades empresariais de cariz familiar destacam-se das demais presentes no mercado, devido a um conjunto de caraterísticas que expressam a sua particularidade. Algumas das caraterísticas marcantes das organizações empresariais familiares são:
• Grande valorização da confiança mútua, independentemente dos vínculos familiares, ou seja, os colaboradores mais antigos da entidade empresarial mantêm a sua relevância no negócio, não sendo esta afetada pelo surgimento de membros mais jovens oriundos da família detentora da empresa;
• Determinação de laços afetivos fortes, os quais influenciam em grande medida, os comportamentos, relacionamentos e demais decisões no âmbito da gestão da organização empresarial;
• Valorização do passado como um atributo que supera a exigência de eficácia e competência;
• Exigência de dedicação caraterizada por atitudes como, possuir um horário de saída, levar trabalho não realizado para casa e dispor dos fins de semana, com o intuito de conviver com elementos do grupo de trabalho;
• Adotar uma postura de austeridade, seja na forma de vestir, seja na administração dos custos da organização empresarial;
• Expectativa de alta fidelidade, a qual se manifesta por meio de comportamentos, como não possuir outras atividades profissionais não relacionadas com a atividade da entidade empresarial;
• Dificuldades na separação entre ações emocionais e racionais, inclinando-se em grande medida para o lado emocional;
• Realização de jogos de poder, onde muitas vezes se valoriza mais a habilidade política em detrimento da capacidade de gestão.
A compreensão detalhada e completa das caraterísticas evidenciadas por uma organização empresarial de cariz familiar, possibilitam um planeamento fundamentado e sustentado relativamente à estratégia de sucessão no âmbito da gestão da mesma.
Tipologias de Entidades Empresariais Familiares
Na esfera das organizações empresariais familiares podemos elaborar a sua distinção tendo por base três tipologias de empresas familiares distintas, que são:
• Tradicional: nesta categoria de empresa familiar, o capital é fechado, existindo pouca transparência quer administrativa, quer financeira, exercendo a família neste contexto, o domínio total e completo sobre os negócios;
• Híbrida: nesta tipologia de entidade empresarial, o capital é aberto, contudo a família ainda detém o controlo total dos negócios, mas existe uma maior transparência e participação na administração por profissionais não familiares;
• Influência familiar: neste terceiro tipo de empresa familiar, a maioria das ações encontra-se em poder do mercado, todavia, a família mesmo estando afastada da administração quotidiana, mantém uma influência no decurso do processo da empresa, através de uma participação de ações significativa.
Vantagens e desvantagens de uma Empresa Familiar
Como em qualquer elemento da área de gestão, a implementação de uma entidade empresarial de cariz familiar apresenta um conjunto de vantagens e desvantagens passíveis de nomeação. As vantagens decorrentes da gestão de uma empresa familiar são:
• O interesse em redor de um património comum, o que gera um sentimento de união entre os membros da família;
• A sucessão de herdeiros competentes, os quais poderão dar sustentabilidade e continuidade ao negócio;
• O sentimento de possuir um negócio próprio, o qual pode gerar não só motivação, como também responsabilidade e prazer;
• O conhecimento dos membros da família, inclusive do presumível sucessor;
• O conhecimento profundo da empresa, o que irá por sua vez proporcionar o desenvolvimento de melhores soluções para os obstáculos decorrentes do processo produtivo;
• A criação de uma relação forte, baseada essencialmente na credibilidade e confiança com os clientes, uma vez que estes gostam de se sentir em casa e integrados num ambiente de ordem familiar.
Por oposição, podemos destacar um grupo de desvantagens inerentes ao processo de gestão de uma empresa familiar, o que na grande maioria das vezes culmina no termito de organizações empresariais com vários anos de atividade. As desvantagens são as seguintes:
• A concorrência entre os familiares pode conduzir a situações de stress e de perda de foco, deixando assim a empresa em segundo plano, prejudicando os negócios;
• A existência de nepotismo, na medida em que, todos querem viver do lucro decorrente dos negócios da empresa, contudo, nem todos evidenciam o talento ou mesmo interesse em trabalhar nesta;
• A dificuldade em proceder à demissão de elementos da família, devido à ligação existente entre estes;
• A falta de separação entre as esferas profissional e pessoal;
• A utilização da estrutura da empresa com objetivos pessoais, como por exemplo: telefone, impressões, utilização do carro da entidade empresarial com o desígnio de resolver problemas de ordem pessoal;
• A impunidade perante o desrespeito pelas regras que se encontram implementadas na organização empresarial, gerando um sentimento negativo nos demais colaboradores da empresa, ao assistirem a uma total falta de preocupação dos seus superiores.
Patrícia Neves