Recursos Humanos: O Grande Desafio Tecnológico
As ferramentas tecnológicas foram o grande impulso para que as empresas pudessem atravessar um desafio imenso: combater a propagação da pandemia e, ao mesmo tempo, assegurar a sua própria continuidade. O advento tecnológico não foi, digamos, uma novidade em si abruptamente imposta. Em muitos casos estava já, de alguma forma, assegurada. Contudo, fomos constatando ao longo dos últimos meses uma aceleração vertiginosa da sua aplicabilidade.
Não seria exagero afirmar que a tecnologia assumiu uma preponderância semelhante a uma vacina económica, sem a qual a vida empresarial teria retrocedido de forma ainda mais abrupta. Sendo certo que as consequências reais estão ainda por delinear, é já possível retirar conclusões palpáveis e orientações sólidas para um futuro próximo com base na experiência atual.
A nova realidade
Ao implementar quase a 100% o digital, as empresas depararam-se com realidades que até então foram apenas miragens. Tornaram-se facto consumado preocupações como a segurança digital. Reuniões que antes existiam à porta fechada são agora vulneráveis a ransomware ou tentativas de phishing. São ambas formas de obtenção ilegítima de informação sensível e/ou confidencial que as empresas se viram agora forçadas a partilhar de forma mais sujeita a brechas de segurança.
Esta é, aliás, uma das principais inquietações para o especialista em segurança digital, Luís Antunes, também professor catedrático da UPorto assegura que, é necessário e crítico investir na segurança e privacidade da informação, que está agora mais do que nunca exposta ao risco de apropriação indevida.
O crescimento não pode ser somente tecnológico; pelo contrário, é imperativa uma transição humana
Esta é também apenas uma de muitas outras vertentes passíveis de reflexão cuidada no que à tecnologia diz respeito. Luís Antunes acrescenta, inclusive, que o crescimento não pode ser somente tecnológico; pelo contrário, é imperativa uma transição humana que passa por reskilling e upskilling – requalificar e aprimorar competências, respectivamente. A aposta em formação deve ser por isso o mais imediata possível, caso contrário dificilmente se atingirá a sustentabilidade necessária para manter os modelos de negócio atuais.
Existe portanto uma dicotomia que se pretende saudável entre a ampliação exponencial da Inteligência Artificial, da domótica, e a nossa própria humanidade. Nesta mesma senda, Ana Paula Marques, Executive Board Member da NOS SGPS, aborda os desafios inerentes, a começar pelo contexto social que tendencialmente se perde nas transacções puramente digitais. Numa transformação que define como ágil e veloz, é necessário não perder o sentido de que as organizações são orgânicas e que, portanto, integram contextos emocionais.
Soft skills são agora mais do que nunca uma vantagem, na medida em que não poderão competir com a Inteligência Artificial
Reconhecendo que o caminho passará por um brutal investimento em analytics e automação, Ana Paula Marques sublinha que as soft skills não perderam terreno para o digital. Em sentido contrário, são agora mais do que nunca uma vantagem, na medida em que não poderão competir com a Inteligência Artificial, despida daquela que é vista como uma das grandes valências na gestão de pessoas: inteligência emocional. Mas a IA não deixa, ainda assim, de representar um risco latente para a motivação e produtividade dos colaboradores.
Como vencer o desafio
Muito se tem discorrido acerca das transformações aceleradas pela pandemia e a vertente tecnológica tem sido, sem dúvida, um dos mais consensuais pontos fulcrais de debate. Hoje damos voz às grandes lições que já foram sendo retiradas, sendo talvez a principal a de que as organizações servem um propósito maior, incluindo o de capacitar os seus colaboradores para a transformação.
Para o fazer é necessário investir em formação, incluindo dos líderes e dos gestores de equipas. Garantir que, no processo, as franjas da população mais resistentes ou, por outro lado, menos competentes para assegurar a transição não sejam excluídas. É também fundamental assegurar uma responsabilidade individual na procura autodidacta por soluções e informação. A resiliência e a capacidade de aprendizagem de novas competências serão os grandes ativos dos empregos do futuro.
In APD
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