A Semana de 4 dias:
Um caminho viável para o futuro do trabalho em Portugal

Nos últimos anos, o debate sobre a semana de trabalho de quatro dias tem ganho tração em diversos contextos globais, incluindo Portugal. O que antes parecia uma ideia revolucionária está a revelar-se uma proposta pragmática, sustentada por estudos científicos e projetos-piloto já testados por algumas empresas em Portugal.
Este artigo analisa os impactos potenciais da semana de 4 dias, com um foco especial em evidências científicas e no potencial transformador desta mudança no contexto português.

A Semana de 4 dias: Um caminho viável para o futuro do trabalho em Portugal

Nos últimos anos, o debate sobre a semana de trabalho de quatro dias tem ganho tração em diversos contextos globais, incluindo Portugal. O que antes parecia uma ideia revolucionária está a revelar-se uma proposta pragmática, sustentada por estudos científicos e projetos-piloto já testados por algumas empresas em Portugal.
Este artigo analisa os impactos potenciais da semana de 4 dias, com um foco especial em evidências científicas e no potencial transformador desta mudança no contexto português.

Fundamentos científicos da semana de 4 dias
Vários estudos e experiências globais têm demonstrado que uma semana de trabalho reduzida pode ser altamente benéfica. A investigação realizada em países como Islândia, Reino Unido e Nova Zelândia indica que a semana de 4 dias pode não apenas manter os níveis de produtividade, mas até aumentá-los. Em particular, o estudo realizado na Islândia entre 2015 e 2019, envolvendo cerca de 2.500 trabalhadores, concluiu que a produtividade permaneceu igual ou melhorou em quase todos os casos, enquanto o bem-estar dos trabalhadores registou uma melhoria significativa.

Portugal encontra-se numa posição estratégica para liderar a implementação da semana de 4 dias na Europa. Com uma economia cada vez mais voltada para os serviços e a inovação, o país tem a oportunidade de redefinir o trabalho para melhor.

Projeto-piloto contou com 21 empresas portuguesas
Esta é uma medida que se encontra em cima da mesa desde 2022 e que contou já com um projeto-piloto liderado pelo anterior governo. A experiência foi realizada em parceria com a Fundação 4 Day Week Global, com a coordenação de Pedro Gomes, professor da Universidade de Londres, e Rita Fontinha da Universidade de Reading. O Instituto do Emprego e da Formação Profissional foi a entidade responsável pela implementação e gestão do programa, que decorreu no segundo semestre de 2023.

O projeto-piloto à semana de trabalho de quatro dias teve início em junho de 2023 e contou com 21 empresas do setor privado. O projeto teve a duração de 6 meses, sem cortes salariais para os trabalhadores que participaram no programa e sem qualquer intervenção financeira do Estado.

Maioria das empresas que testaram modelo prolongaram o programa
De acordo com o relatório final divulgado em junho deste ano pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), a maioria das empresas portuguesas que experimentaram a semana de trabalho de quatro dias prolongou o programa por mais 6 meses. Apenas quatro das referidas empresas decidiram voltar ao modelo de trabalho anterior. Entre as restantes, 5 optaram por reduzir a escala da semana de quatro dias, 2 mantiveram a redução para 36 horas, mas passaram a dar a tarde de sexta-feira aos seus trabalhadores, 1 começou a experimentar a quinzena de nove dias e 2 outras vão reduzir a semana de trabalho apenas durante os meses do verão (de junho a agosto).

Mudanças estruturais são fundamentais na implementação da semana de 4 dias
De acordo com o coordenador Pedro Gomes, o projeto correu melhor entre as empresas que fizeram mais mudanças internas, nomeadamente na gestão das equipas, adoção de novas tecnologias, entre outras mudanças estruturais. “Os números refletem essa condição essencial nas empresas que foram bem sucedidas: é preciso uma mudança grande na organização do trabalho. Quanto mais mudanças, melhor corre operacionalmente e, depois, as empresas sentem que conseguem manter o mesmo serviço, os trabalhadores estão mais contentes e não querem voltar para trás”.

Oportunidades para Portugal
Ao adotar a semana de 4 dias, Portugal pode melhorar a qualidade de vida dos seus trabalhadores, aumentar a sua competitividade global e contribuir para os objetivos de sustentabilidade ambiental.

Estudos mostram que, em países onde a semana de 4 dias foi testada, houve uma melhoria na satisfação dos trabalhadores, uma redução no absentismo e uma maior capacidade de atrair e reter talentos. Estes fatores são essenciais para Portugal, que enfrenta desafios demográficos e a necessidade de reter jovens talentos no mercado de trabalho.

Vantagens e benefícios da semana de quatro dias
De acordo com o relatório do projeto-piloto realizado em Portugal, entre as vantagens destacam-se o aumento da atratividade dos empregadores no mercado de trabalho, a melhoria do funcionamento das equipas e do trabalho criativo, a redução do absentismo, a queda evidente da exaustão e desgaste, maior equilíbrio entre trabalho, família e vida pessoal. Cerca de 93% dos trabalhadores gostaria de continuar neste formato, revela o relatório final.

Outros benefícios comprovados por estudos científicos:

1. Produtividade Sustentada e Aumentada
Um dos argumentos mais robustos em favor da semana de 4 dias é o aumento da produtividade. Estudos sugerem que a redução do número de dias de trabalho pode forçar uma maior eficiência nas horas trabalhadas. Trabalhadores mais motivados e descansados tendem a ser mais focados e eficientes, eliminando o tempo perdido em distrações e aumentando o foco nas tarefas essenciais.

2. Saúde Mental e Bem-Estar:
A ciência social demonstra uma ligação direta entre o equilíbrio entre vida profissional e pessoal e a saúde mental. A semana de 4 dias oferece aos trabalhadores mais tempo para atividades pessoais, lazer e descanso, resultando numa redução significativa dos níveis de stress e burnout. A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que melhores condições de trabalho estão correlacionadas com a redução de doenças mentais, sugerindo que este modelo pode ter impactos positivos a longo prazo na saúde pública.

3. Inovação e Criatividade:
Reduzir o tempo de trabalho pode também promover um ambiente mais propício à inovação. Estudos em psicologia organizacional indicam que pausas adequadas e tempo livre estimulam a criatividade e a resolução de problemas, fatores cruciais para o desenvolvimento e competitividade das empresas. Em Portugal, este pode ser um diferencial importante num mercado global cada vez mais competitivo.

4. Sustentabilidade e Impacto Ambiental:
Menos dias de trabalho resultam em menos deslocações, reduzindo significativamente as emissões de carbono. Além disso, as empresas podem reduzir o consumo de recursos como energia, papel e outros materiais, alinhando-se com as metas de sustentabilidade que estão a ganhar importância em Portugal e na União Europeia.

5. Desafios e Estratégias de Implementação:
Embora os benefícios sejam claros, a transição para uma semana de 4 dias não é isenta de desafios. No entanto, uma abordagem baseada em evidências e na ciência social pode ajudar a mitigar estes obstáculos.

6. Setores Específicos e Adaptabilidade:
Embora a implementação em setores como tecnologia e serviços financeiros possa ser relativamente simples, áreas como saúde, educação e serviços de emergência exigem estratégias mais criativas. Estudos sugerem que soluções como a rotação de equipas e a flexibilidade nos horários podem ajudar a manter a continuidade dos serviços essenciais, sem comprometer os benefícios da semana de 4 dias.

7. Formação e Desenvolvimento:
A adaptação a uma semana de trabalho mais curta requer uma mudança de mentalidade e novas competências, particularmente na gestão do tempo e na organização do trabalho. Investir em programas de formação e desenvolvimento contínuo pode garantir que os trabalhadores e gestores estão preparados para maximizar a eficiência neste novo modelo.

8. Políticas Públicas de Apoio:
A implementação da semana de 4 dias beneficia de um quadro regulatório que incentiva a experimentação e a inovação. Políticas públicas que ofereçam incentivos fiscais ou apoios financeiros para empresas que adotem este modelo podem acelerar a sua adoção, promovendo uma transição suave e bem-sucedida.

A semana de 4 dias não é apenas uma ideia futurista; é uma possibilidade real, suportada por um corpo crescente de evidências científicas que demonstram os seus múltiplos benefícios. Para Portugal, esta é uma oportunidade de ouro para liderar uma nova era no mundo do trabalho, onde a produtividade, a inovação e o bem-estar caminham lado a lado. Com uma abordagem baseada na ciência e uma implementação cuidadosa, a semana de 4 dias pode ser um catalisador para um futuro mais sustentável, equilibrado e próspero para todos.

Andreia Arenga
04.09.2024

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Fundamentos científicos da semana de 4 dias
Vários estudos e experiências globais têm demonstrado que uma semana de trabalho reduzida pode ser altamente benéfica. A investigação realizada em países como Islândia, Reino Unido e Nova Zelândia indica que a semana de 4 dias pode não apenas manter os níveis de produtividade, mas até aumentá-los. Em particular, o estudo realizado na Islândia entre 2015 e 2019, envolvendo cerca de 2.500 trabalhadores, concluiu que a produtividade permaneceu igual ou melhorou em quase todos os casos, enquanto o bem-estar dos trabalhadores registou uma melhoria significativa.

Portugal encontra-se numa posição estratégica para liderar a implementação da semana de 4 dias na Europa. Com uma economia cada vez mais voltada para os serviços e a inovação, o país tem a oportunidade de redefinir o trabalho para melhor.

Projeto-piloto contou com 21 empresas portuguesas
Esta é uma medida que se encontra em cima da mesa desde 2022 e que contou já com um projeto-piloto liderado pelo anterior governo. A experiência foi realizada em parceria com a Fundação 4 Day Week Global, com a coordenação de Pedro Gomes, professor da Universidade de Londres, e Rita Fontinha da Universidade de Reading. O Instituto do Emprego e da Formação Profissional foi a entidade responsável pela implementação e gestão do programa, que decorreu no segundo semestre de 2023.

O projeto-piloto à semana de trabalho de quatro dias teve início em junho de 2023 e contou com 21 empresas do setor privado. O projeto teve a duração de 6 meses, sem cortes salariais para os trabalhadores que participaram no programa e sem qualquer intervenção financeira do Estado.

Maioria das empresas que testaram modelo prolongaram o programa
De acordo com o relatório final divulgado em junho deste ano pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), a maioria das empresas portuguesas que experimentaram a semana de trabalho de quatro dias prolongou o programa por mais 6 meses. Apenas quatro das referidas empresas decidiram voltar ao modelo de trabalho anterior. Entre as restantes, 5 optaram por reduzir a escala da semana de quatro dias, 2 mantiveram a redução para 36 horas, mas passaram a dar a tarde de sexta-feira aos seus trabalhadores, 1 começou a experimentar a quinzena de nove dias e 2 outras vão reduzir a semana de trabalho apenas durante os meses do verão (de junho a agosto).

Mudanças estruturais são fundamentais na implementação da semana de 4 dias
De acordo com o coordenador Pedro Gomes, o projeto correu melhor entre as empresas que fizeram mais mudanças internas, nomeadamente na gestão das equipas, adoção de novas tecnologias, entre outras mudanças estruturais. “Os números refletem essa condição essencial nas empresas que foram bem sucedidas: é preciso uma mudança grande na organização do trabalho. Quanto mais mudanças, melhor corre operacionalmente e, depois, as empresas sentem que conseguem manter o mesmo serviço, os trabalhadores estão mais contentes e não querem voltar para trás”.

Oportunidades para Portugal
Ao adotar a semana de 4 dias, Portugal pode melhorar a qualidade de vida dos seus trabalhadores, aumentar a sua competitividade global e contribuir para os objetivos de sustentabilidade ambiental.

Estudos mostram que, em países onde a semana de 4 dias foi testada, houve uma melhoria na satisfação dos trabalhadores, uma redução no absentismo e uma maior capacidade de atrair e reter talentos. Estes fatores são essenciais para Portugal, que enfrenta desafios demográficos e a necessidade de reter jovens talentos no mercado de trabalho.

Vantagens e benefícios da semana de quatro dias
De acordo com o relatório do projeto-piloto realizado em Portugal, entre as vantagens destacam-se o aumento da atratividade dos empregadores no mercado de trabalho, a melhoria do funcionamento das equipas e do trabalho criativo, a redução do absentismo, a queda evidente da exaustão e desgaste, maior equilíbrio entre trabalho, família e vida pessoal. Cerca de 93% dos trabalhadores gostaria de continuar neste formato, revela o relatório final.

Outros benefícios comprovados por estudos científicos:

1. Produtividade Sustentada e Aumentada
Um dos argumentos mais robustos em favor da semana de 4 dias é o aumento da produtividade. Estudos sugerem que a redução do número de dias de trabalho pode forçar uma maior eficiência nas horas trabalhadas. Trabalhadores mais motivados e descansados tendem a ser mais focados e eficientes, eliminando o tempo perdido em distrações e aumentando o foco nas tarefas essenciais.

2. Saúde Mental e Bem-Estar:
A ciência social demonstra uma ligação direta entre o equilíbrio entre vida profissional e pessoal e a saúde mental. A semana de 4 dias oferece aos trabalhadores mais tempo para atividades pessoais, lazer e descanso, resultando numa redução significativa dos níveis de stress e burnout. A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que melhores condições de trabalho estão correlacionadas com a redução de doenças mentais, sugerindo que este modelo pode ter impactos positivos a longo prazo na saúde pública.

3. Inovação e Criatividade:
Reduzir o tempo de trabalho pode também promover um ambiente mais propício à inovação. Estudos em psicologia organizacional indicam que pausas adequadas e tempo livre estimulam a criatividade e a resolução de problemas, fatores cruciais para o desenvolvimento e competitividade das empresas. Em Portugal, este pode ser um diferencial importante num mercado global cada vez mais competitivo.

4. Sustentabilidade e Impacto Ambiental:
Menos dias de trabalho resultam em menos deslocações, reduzindo significativamente as emissões de carbono. Além disso, as empresas podem reduzir o consumo de recursos como energia, papel e outros materiais, alinhando-se com as metas de sustentabilidade que estão a ganhar importância em Portugal e na União Europeia.

5. Desafios e Estratégias de Implementação:
Embora os benefícios sejam claros, a transição para uma semana de 4 dias não é isenta de desafios. No entanto, uma abordagem baseada em evidências e na ciência social pode ajudar a mitigar estes obstáculos.

6. Setores Específicos e Adaptabilidade:
Embora a implementação em setores como tecnologia e serviços financeiros possa ser relativamente simples, áreas como saúde, educação e serviços de emergência exigem estratégias mais criativas. Estudos sugerem que soluções como a rotação de equipas e a flexibilidade nos horários podem ajudar a manter a continuidade dos serviços essenciais, sem comprometer os benefícios da semana de 4 dias.

7. Formação e Desenvolvimento:
A adaptação a uma semana de trabalho mais curta requer uma mudança de mentalidade e novas competências, particularmente na gestão do tempo e na organização do trabalho. Investir em programas de formação e desenvolvimento contínuo pode garantir que os trabalhadores e gestores estão preparados para maximizar a eficiência neste novo modelo.

8. Políticas Públicas de Apoio:
A implementação da semana de 4 dias beneficia de um quadro regulatório que incentiva a experimentação e a inovação. Políticas públicas que ofereçam incentivos fiscais ou apoios financeiros para empresas que adotem este modelo podem acelerar a sua adoção, promovendo uma transição suave e bem-sucedida.

A semana de 4 dias não é apenas uma ideia futurista; é uma possibilidade real, suportada por um corpo crescente de evidências científicas que demonstram os seus múltiplos benefícios. Para Portugal, esta é uma oportunidade de ouro para liderar uma nova era no mundo do trabalho, onde a produtividade, a inovação e o bem-estar caminham lado a lado. Com uma abordagem baseada na ciência e uma implementação cuidadosa, a semana de 4 dias pode ser um catalisador para um futuro mais sustentável, equilibrado e próspero para todos.

Andreia Arenga
04.09.2024

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2024-09-04T15:54:49+01:00
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